As dores do parto vão se
intensificando, a mulher africana se apresa para alcançar a nascente do rio Atbara
antes que seu filho ganhe o mundo. Aos passos largos, segurando sua pontuda
barriga ela começa a ouvir o barulho das águas lhe dizendo para acalmar-se.
Deitada na leve corredeira e mirando o sol a pino em seu rosto suado, ela traz
à vida aquele que está destinado a prosseguir linhagem de guerreiros axumitas,
no retorno ao lar seu companheiro irá conhecer o garoto forte que lhe tomará o
lugar nas batalhas do reino. Seu nome deve ser cuidadosamente escolhido, deve
ser algo que aponte para toda sua ferocidade e obstinação na vitória sobre
qualquer inimigo. Assim, o líder guerreiro de fronte a sua prole declara: Tu
vais chamar-te Lalá! Toma o pequeno garoto em seus braços e apresenta ao resto
da comunidade seu novo membro.
Os anos passam e o
pequeno Lalá contraria as expectativas com seu físico delgado, seu perfil franzino
e andar pacato. Aos 10 anos de idade assustado com as histórias de guerras e
treinamentos inconscientes contidos nas brincadeiras infantis, Lalá procura ser
útil ajudando na agricultura que se fazia o principal ofício de seu povo. Fato
que irritava seu pai, pois este não podia compreender que lição os deuses
poderiam estar lhe enviando ao fazer com que seu filho renunciasse seus
preparativos para integrar a guarda do reino em troca de um papel de simples
camponês. Qual seria a iniquidade digna da penitência de ter um filho tão
pequeno e frágil?
Quando o rei Salomão ordena
o ataque ao reino Diamat, Lalá já alcançava seus vinte anos e ainda não atingia
o peso de uma cabra. Impossibilitado de lutar devido seu físico raquítico e
feições infantis Lalá discretamente se distancia do restante da comunidade que
migrava para os novos territórios conquistados. Envergonhado por não poder
estar na linha de frente das batalhas toma a decisão de não mais voltar ao
convívio de seu povo e assim não testemunha a fundação do reino Axum no século
IV a.c. por Manelik filho do rei axumita e da rainha de Sabá.
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