sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O nascimento do Lalá.



As dores do parto vão se intensificando, a mulher africana se apresa para alcançar a nascente do rio Atbara antes que seu filho ganhe o mundo. Aos passos largos, segurando sua pontuda barriga ela começa a ouvir o barulho das águas lhe dizendo para acalmar-se. Deitada na leve corredeira e mirando o sol a pino em seu rosto suado, ela traz à vida aquele que está destinado a prosseguir linhagem de guerreiros axumitas, no retorno ao lar seu companheiro irá conhecer o garoto forte que lhe tomará o lugar nas batalhas do reino. Seu nome deve ser cuidadosamente escolhido, deve ser algo que aponte para toda sua ferocidade e obstinação na vitória sobre qualquer inimigo. Assim, o líder guerreiro de fronte a sua prole declara: Tu vais chamar-te Lalá! Toma o pequeno garoto em seus braços e apresenta ao resto da comunidade seu novo membro.
Os anos passam e o pequeno Lalá contraria as expectativas com seu físico delgado, seu perfil franzino e andar pacato. Aos 10 anos de idade assustado com as histórias de guerras e treinamentos inconscientes contidos nas brincadeiras infantis, Lalá procura ser útil ajudando na agricultura que se fazia o principal ofício de seu povo. Fato que irritava seu pai, pois este não podia compreender que lição os deuses poderiam estar lhe enviando ao fazer com que seu filho renunciasse seus preparativos para integrar a guarda do reino em troca de um papel de simples camponês. Qual seria a iniquidade digna da penitência de ter um filho tão pequeno e frágil?
Quando o rei Salomão ordena o ataque ao reino Diamat, Lalá já alcançava seus vinte anos e ainda não atingia o peso de uma cabra. Impossibilitado de lutar devido seu físico raquítico e feições infantis Lalá discretamente se distancia do restante da comunidade que migrava para os novos territórios conquistados. Envergonhado por não poder estar na linha de frente das batalhas toma a decisão de não mais voltar ao convívio de seu povo e assim não testemunha a fundação do reino Axum no século IV a.c. por Manelik filho do rei axumita e da rainha de Sabá.